sábado, 11 de dezembro de 2010

A casa na mata

No fim de semana passado, viajamos para Paraty Mirim, uma comunidade pequena, habitada em sua maioria por pescadores, que fica em torno de 15 quilômetros da cidade de Paraty.
Encerramos um trabalho que durou um ano, onde atendemos na escola, no posto de saúde e no centrinho, próximo à praia.
Com o intuito de ficarmos mais próximos, alugamos a casa da da filha de uma moradora local, que fica encravada na mata atlântica. Para se chegar até ela era necessário atravessar uma ponte, bem feita, bonita, que balançava a cada passo, sobre o rio, de águas barrentas pela chuva que caía naqueles dias, que seguia para desaguar no mar.



Na madrugada de sexta-feira, quando chegamos (em torno das 3 da manhã), era grande a escuridão, e algumas lanternas nos ajudavam a enxergar algo. A atenção devia ser grande, pois o peso das malas, compras e equipamentos dificultavam atravessar o balançar da ponte.
A sensação de estar integrado com a mata, a mesma que portugueses descobriram há séculos atrás, era incrível. Paraty Mirim, foi o primeiro ponto que eles encontraram, transferindo a cidade décadas mais tarde para onde ela se localiza nos dias atuais.
O convívio com a natureza, a reunião com amigos após os trabalhos, um churrasquinho, violão e cantoria, são ingredientes que inflam com tal energia, que dia seguinte não há como não realizar um bom trabalho.


O vídeo mostra a travessia da ponte e "nossa" casa na mata:

segunda-feira, 6 de dezembro de 2010

Almir

Almir é o mecânico chefe de uma concessionária de carros importados. Numa viagem em que acompanhava seu chefe com amigos, dividiu o quarto com Bernardo. Ao entrarem na simples pousada em que passariam a noite, encontraram apenas uma cama e um colchão encostado ao lado.
- Almir, pode deixar que eu durmo no colchão. - disse Bernardo, humilde como sempre.
- Imagina, seu Nado, pode deixar que eu durmo no chão. O senhor nem imagina onde eu já dormi... - respondeu o amigo, lhe contando sua história.
Nasceu e morou toda sua juventude no pantanal matogrossense. Era um matuto, na acepção da palavra. Muitas vezes, dormia ao relento, sobre a grama, embaixo de uma árvore. "E aquilo, pra mim, era a melhor coisa do mundo!", exclama saudoso.
Em seu último emprego no Pantanal, tomava conta de uma grande fazenda. A casa grande, ficava sobre altas palafitas, pois na época das águas, tudo se alagava e o único caminho era sair de barco pela porta de entrada. Os donos, sempre saiam nesse período, esperando o tempo de seca para retornarem à sua casa. Mas não podiam deixar o imóvel sozinho; a coisa mais comum quando as águas subiam, eram saqueadores levarem tudo o que os donos deixavam para trás. Essa era a principal função de Almir, estocar provisão para os quatro meses em que tudo estaria inundado e ficar, em suas palavras, "armado até os dentes", para não deixar ninguém se aproximar.
- Seu Nado, eu mal dormia de noite, pois os bandidos vinham nessa hora, com o motor do barco desligado para não chamar atenção, e matariam quem tivesse tomando conta, só para roubar tudo mais tranquilos.
Almir continuou contando histórias sobre m Brasil conhecido por poucos, onde a lei é muito diferente. Onde a vida, acaba valendo pouco quando a sede de bandidos é insaciável.
Hoje, é feliz com sua nova profissão, que o ajudou a ganhar um bom dinheiro e o afastou de tantos perigos e noites mal-dormidas. Mas ainda sente muita falta de suas noites dormidas sob uma frondosa árvore iluminada pelo luar do pantanal.