terça-feira, 18 de dezembro de 2012

Uma cena da grande cidade

Ele está lá todos os dias, na mesma esquina movimentada. Os carros que passam em torno das 7 horas da manhã podem vê-lo, algumas vezes deitado na calçada, outras sentado, mas, normalmente, está em pé, olhando fixo para os motoristas dentro de seus carros caros de vidros fechados.
Como não entendê-los, em uma cidade como São Paulo, onde a violência pode esperar em qualquer farol com uma arma apontada para sua cabeça?
Como não entendê-lo, sabendo de todo o básico que lhe é privado e ainda receber preconceito por sua condição e sua cor?
Cor. Quando começamos a separar o ser humano por cores? Talvez mesmo antes de separarmos por condição social. Talvez mesmo antes do "social" ter que ser usado como palavra para regimentar um grupo de pessoas. Que importa? Importa o abismo que vai se criando entre um e outros.
Talvez por isso ele venha se tornando pouco mais agressivo a cada dia. Não no sentido violento, mas em olhar, encarar. Algumas vezes, quando o sinal fecha, anda até a frente de um carro e olha bravo, diretamente nos olhos do motorista.
Um deles olhou calmo para ele, sustentando o olhar. Certo, errado? Desviar o olhar mostraria medo? Manter o olhar mostraria enfrentamento e uma possível agressão? Não sabia. O farol abriu e foi embora.
A roupa sempre suja e surrada. Jeito de quem desistiu de tentar, qualquer coisa. A culpa foi sua, foi da sociedade, de alguém? Quem sabe?
E todos os outros carros o veem, sabem dele. E quando o farol abre vão embora. Sempre.
E ele continua lá. Todos os dias.